
Dinheiro: aquele assunto que a gente evita comentar na roda do bar ou na mesa de casa. Ou melhor: a falta dele. Realmente, é um tema desconfortável, e por mais difícil que seja, precisamos falar sobre falta de grana. Isso é muito mais importante do que você imagina, tanto para começar a poupar quanto para sair das dívidas.
Quando percebemos que a grana está curta, os problemas que encaramos não são apenas práticos; não se trata apenas de não conseguir pagar um boleto ou a fatura do cartão. ?Se eu tenho um problema financeiro, isso afeta minha saúde emocional, e o contrário também acontece?, aponta a psicóloga Glaucia Berdak.
Segundo a especialista, a falta de dinheiro pode provocar ansiedade, abalar a autoestima e até mesmo levar à depressão. Por isso, não dá para simplesmente varrermos esse tema para debaixo do tapete. Vamos, finalmente, encarar o assunto e encontrar uma forma mais tranquila de lidar com ele?
Ficar sem grana abala a autoestima
Não ter como pagar uma conta é algo que pode causar muita ansiedade. Quando estamos sem dinheiro, ficamos sempre nervosos em relação ao futuro: será que vai dar para comprar um presente de aniversário para o meu filho? E se acontecer uma emergência e eu precisar comprar um remédio caro? Essa ansiedade pode afetar diretamente o sono, o apetite e a capacidade de manter o foco.
Ter ou não ter grana também tem muito a ver com a forma como nos valorizamos. ?A falta de dinheiro pode fazer a pessoa se sentir insuficiente?, diz Berdak. De acordo com a psicóloga, um dos motivos pelos quais isso acontece é porque todos nós temos a necessidade de fazer parte de algo, querer pertencer a um grupo é uma questão humana.
Então, se estamos com dificuldade para fechar as contas no fim do mês e vemos outras pessoas à nossa volta curtindo viagens ou fazendo reformas em casa, acabamos nos comparando a elas e nos sentimos menos capazes.
Por outro lado, quando conseguimos lidar com o dinheiro de uma maneira mais tranquila, nos tornamos mais confiantes em relação a nós mesmos e ao futuro. Alcançar essa tranquilidade financeira é possível, confira abaixo!
Saúde psicológica e bem-estar financeiro andam juntos
Quando falamos da nossa ligação com o dinheiro, estamos falando de bem-estar financeiro. Isso não significa ser rico, mas pode ser resultado de hábitos e comportamentos positivos em relação aos próprios recursos.
A questão é que a forma como nos sentimos influencia muito a maneira como lidamos com o dinheiro. ?Se eu estou passando por problemas na família ou no relacionamento, isso pode afetar minhas finanças?, diz Berdak. A especialista observa que saúde financeira e psicológica (também chamada de ?saúde emocional?) estão totalmente conectadas: se não nos sentimos bem com quem somos, acabamos não cuidando das finanças; e se as nossas finanças não vão bem, também nos negligenciamos. Cuidar de uma é cuidar da outra.
Seus sentimentos determinam como você gasta seu dinheiro
É muito importante perceber quais sentimentos estão por trás dos nossos hábitos de consumo. Imagine alguém que está com o dinheiro bem apertado, mas que mesmo assim acaba comprando o novo celular da moda ? e, por isso, termina caindo no crédito rotativo do cartão. O que pode ter levado essa pessoa a investir em um aparelho caro, mesmo sabendo que não tinha grana sobrando para isso?
Em muitos casos, compramos alguma coisa de que não precisamos porque queremos atender a uma necessidade emocional. ?O dinheiro tem vários significados. Ele pode ser uma necessidade básica, uma demonstração de poder, uma forma de se sentir amado? Muitas pessoas acreditam nessa questão do ?ter? para ser amado, admirado, para estar sempre em destaque?, explica Berdak. Ou seja: a baixa autoestima e a insatisfação com a própria vida influenciam diretamente nossos hábitos de consumo e a maioria de nós nem se dá conta disso.
Presentes caros que viram dívidas
Glaucia Berdak chama a atenção para outro problema: o fato de querer evitar o desprazer a todo custo. O ato de comprar pode ser muito prazeroso e pode gerar gastos com coisas desnecessárias. ?Não importa se eu não tenho dinheiro, eu sinto que preciso fazer coisas que me satisfaçam. Esse tipo de posicionamento pode acabar se tornando um vício?, ela diz.
A melhor forma de ficarmos mais satisfeitos e confiantes é cuidando de nós mesmos e da nossa saúde mental ? ao invés de olhar para fora, devemos olhar para dentro, para a origem desses sentimentos. Ao fazer isso, você, com certeza, já conseguirá pensar em como mudar seus hábitos em relação ao dinheiro.
Como cuidar da saúde financeira na prática
Para melhorar a saúde financeira é preciso ter paciência. Não se cobre para ter dinheiro sobrando da noite para o dia, dê um passo de cada vez. ?O quanto antes se toma essa iniciativa, antes se terá um resultado. No final do processo, é possível até mesmo fazer um investimento ou planejar uma viagem. A pessoa consegue encontrar dentro dela elementos mais prazerosos do que simplesmente a compra?, afirma Berdak.
A psicóloga indica uma série de etapas para começar a cuidar da sua saúde financeira. A primeira delas é compreender que o dinheiro que você tem deve ser maior do que o valor dos seus gastos. ?A pessoa deve fazer o cálculo de quanto ela tem de recursos e de quais são suas despesas. Isso pode ser feito em uma folha de papel, em um caderno? O importante é que seja concretizado. É preciso tirar as ideias da cabeça e colocar em um lugar ao alcance dos olhos?, diz Berdak. Você também pode se organizar com a ajuda de uma planilha de gastos pessoais, por exemplo.
A segunda etapa é analisar suas despesas. Algumas delas podem ser fixas, como água, luz, telefone, aluguel e alimentação. Mas e os gastos que não são fixos? Coloque tudo no papel. ?Essas despesas têm de ficar visíveis, para se poder enxergar por onde o dinheiro está indo embora?, explica a psicóloga.
A terceira etapa é a de escolher os gastos a serem cortados, e talvez seja a parte mais difícil. ?Se eu quero manter a minha saúde financeira, às vezes vou ter de sacrificar passeios e compras. Posso estar gastando demais no cinema, nos barzinhos ou em restaurantes?, diz Berdak. A especialista também sugere uma maneira de contornar a situação: ?Será que não posso desenvolver uma nova atividade e aprender a fazer receitas novas em casa, por exemplo??.
Por último, a psicóloga observa que fazer um planejamento financeiro, listando todas as suas despesas e analisando para onde seu dinheiro pode ir ou não, deve se tornar um hábito mensal.
Não tem jeito. Para conseguir juntar dinheiro, é preciso abrir mão de alguns prazeres ainda que momentaneamente, mas acredite: poupar vale muito a pena. ?A pessoa tem que esperar e entender que lá na frente ela poderá colher frutos muito doces?, aconselha Berdak.
Como pensar em saúde financeira estando desempregado
Estar sem grana é muito difícil por si só, mas estar sem dinheiro e sem emprego é ainda mais complicado. Segundo Glaucia Berdak, perder um emprego é como passar por um processo de luto. ?A gente tinha um vínculo e ele foi rompido. É um grande baque?, diz ela. ?É uma quebra da relação que você tinha com a empresa, com os colegas. Pensamos: ?no trabalho eu era alguém, eu tinha um cargo?? É avassalador?.
Para quem está passando por essa situação, a psicóloga aconselha buscar cursos gratuitos para tentar se qualificar e encontrar uma nova posição no mercado. Ela também sugere considerar o empreendedorismo: o que eu sei fazer? Será que sei fazer um pão? O que posso fazer para me manter nesse momento? Explore suas habilidades até conseguir uma recolocação?.
Buscar ajuda também é sempre muito importante. Todos nós precisamos do apoio de amigos e familiares com quem possamos compartilhar a nossa angústia e o desconforto com a falta de dinheiro e o desemprego. Como se pode ver, é necessário falar sobre falta de grana e, para enfrentar essa fase difícil, também vale procurar a ajuda de um profissional. ?Existem muitas situações em que psicólogos fazem atendimento gratuito para dar um suporte, uma luz, uma orientação à pessoa?, diz Berdak.

Fonte: Acordo Certo